JODI RUDOREN DO "NEW YORK TIMES", EM RAMALLAH (CISJORDÂNIA) 03/02/2014 16h10
Seis meses depois de lançadas conversações de paz que estão sendo dominadas por discussões relativas à segurança, o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, propôs ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que uma força da Otan liderada pelos EUA patrulhe por tempo indeterminado um futuro Estado palestino, com tropas posicionadas em todo seu território, em todos os pontos de travessia e dentro de Jerusalém.
Em entrevista dada ao "New York Times" em seu quartel-general em Ramallah, no fim de semana, Abbas disse que soldados israelenses poderiam permanecer na Cisjordânia por até cinco anos –não três, como ele tinha dito anteriormente– e que os assentamentos judaicos seriam retirados do novo Estado palestino gradativamente, seguindo um cronograma semelhante.
"Por muito tempo e onde elas quiserem, não apenas na fronteira oriental, mas também na fronteira ocidental, em todo lugar", disse Abbas, falando da missão imaginada da Otan. "A terceira parte pode permanecer. Pode permanecer para dar tranquilidade aos israelenses e para nos proteger."
"Nós seremos desmilitarizados", ele acrescentou. "Você acha que temos alguma ilusão de que possamos ter qualquer segurança se os israelenses não sentirem que têm segurança?"
A entrevista, uma raridade por ser dada por um líder palestino a uma organização noticiosa ocidental, foi a exposição mais detalhada de Abbas até agora sobre arranjos de segurança e enfatizou as divisões ainda importantes restantes entre os dois lados. Israel insiste em manter uma presença militar de longo prazo no vale do Jordão e em controlar o cronograma e as condições para a retirada de suas tropas.
A proposta de Abbas chega numa fase delicada das negociações mediadas pelos EUA. Kerry se prepara para apresentar um esboço de proposta contendo os princípios básicos para um acordo de paz, incluindo um plano de segurança, uma fronteira aproximadamente igual à de 1967, o reconhecimento palestino de Israel como Estado judaico e Jerusalém como capital compartilhada.
A especificidade da linguagem da proposta provisória, e o modo como os líderes israelenses e palestinos expressarem reservas em relação a ele, provavelmente vão determinar a continuação ou não das negociações após a data prevista para seu término, 29 de abril. De acordo com várias pessoas que participam do processo, uma possibilidade será estender as negociações ao longo de 2014, com Israel concordando em congelar as construções nos assentamentos em áreas previstas no plano provisório para fazer parte da Palestina, enquanto Abbas adia a entrada palestina no Tribunal Criminal Internacional e agências da ONU, medidas que são fortemente rejeitadas por Israel e os Estados Unidos.
"Não é uma data sagrada", disse Abbas. "Digamos que, ao término de nove meses, temos algo promissor, devo parar? Não vou parar. Se, após nove meses, não tivermos nada, não houver nada no horizonte, pararemos."
Mas Abbas também se distanciou um pouco da proposta provisória de Kerry, dizendo: "Ele tem o direito de fazer o que quiser, e ao final nós temos o direito de dizer o que quisermos." Essa postura ecoou a declaração dada na semana passada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizendo que "Israel não precisa concordar com tudo o que a América apresenta".
O gabinete de Netanyahu se negou a responder às declarações de Abbas. Mas a ideia de que Israel possa depender de suas próprias forças armadas, não de uma terceira parte, é uma das posições básicas repetidas sempre pelo premiê. Ele também diz, citando a volatilidade na região, que um cronograma fixo é inviável.
Jen Psaki, a porta-voz de Kerry, disse em e-mail que "há muitas ideias sendo aventadas pelos israelenses e os palestinos, mas ainda é cedo para tecer previsões quanto ao teor final da proposta provisória".
Abbas disse que vem resistindo a pressões das ruas e da liderança palestinas –incluindo o voto unânime do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina e do comitê central de seu próprio partido, o Fatah– para ingressar nas agências da ONU, informando que sua equipe já lhe apresentou 63 candidaturas a ingresso prontas para receber sua assinatura.
"Quero aproveitar cada minuto agora. Talvez possamos realizar alguma coisa", disse Abbas. "Não gosto de ir aos tribunais. Não gosto de tribunais. Quero resolver meus problemas diretamente entre as partes." Mas, acrescentou: "Se eu não ganhar meus direitos, ponha-se em meu lugar –o que eu devo fazer?"
Abbas disse que não permitirá uma terceira intifada, ou levante.
"Em minha vida, e se eu tiver mais vida no futuro, nunca retornarei à luta armada", falou.
Tradução de Clara Allain
Notícia enviada pelo Observatório de Fronteiras e veiculada no site http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/02/1406832-lider-palestino-quer-forca-da-otan-em-futuro-estado.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário